sábado, 21 de maio de 2011

Eu sou eu mesmo?

         

           É possível saber quem somos? Alguém pode responder dizendo que a resposta está em avaliarmos nossas atitudes. Mas, se tais atitudes não são necessariamente nossas.
          
            Vivemos num mar de influências, somos tocados e motivados por pessoas, instituições, ideologias, enfim, nos afogamos em ideias de outrem.

            Será que é possível descobrirmos nosso mais puro “EU”, sem qualquer influência. David Hume, filósofo do século XVIII, afirma que nós somos um conjunto de sensações que a todo momento está em constante mudança, deste modo, não é possível afirmar a existência de um “EU”. Para ele o “EU” é uma ficção. Se o “EU” existisse seríamos pessoas com uma essência estática, ou seja, nasceríamos prontos com nossas próprias qualidades para o mundo.
       
         Jean Paul Sartre (1905-1980) possui uma célebre frase “a existência precede a essência”, partindo desta ideia podemos dizer que o ser humano existe e posteriormente recebe influências da vida construindo assim sua “essência”. A grande questão que fica é se essa essência é do próprio indivíduo ou se ela é um conjunto de ideologias de outrem.
            
       No livro “O retrato de Doria Gray” de Oscar Wilde, mostra uma passagem interessantíssima que de certa forma aborda esta ideia:

“Porque exercer a nossa influência sobre alguém é darmos a própria alma. Esse alguém deixa de pensar com os pensamentos que Lhe são inerentes, ou de se inflamar com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são reais. Os seus pecados - se é que os pecados existem - são emprestados. Tal pessoa passa a ser o eco da música de outrem, o actor de um papel que não foi escrito para si. O objectivo da vida é o nosso desenvolvimento pessoal. Compreender perfeitamente a nossa natureza - é para isso que estamos cá neste mundo.” (WILDE, 2000: 26)

            Será que estamos vivendo paixões, pensamentos, virtudes e até pecados dos outros e não naturalmente nossos; será que no fundo, no fundo o objetivo de nossa vida se resume a encontrarmos nossa verdadeira natureza dentro de uma multiplicidade de ideias, pontos de vista, ideologias que não são necessariamente nossas?

            É possível chegarmos à superfície destas águas influenciáveis e enxergarmos nosso mais puro “EU”, nossa verdadeira natureza? Quem é capaz de respirar com seus próprios pulmões, enxergar com seus próprios olhos ou ouvir com seus próprios ouvidos?

            Pensem nisso, ou melhor, desafio vocês a pensarem com suas próprias ideias. Isto é possível?



Bibliografia:
WILDE, Oscar. O retrato de Dorian Gray. Tradução Maria de Lurdes Sousa Ruivo. Abril/ Controjornal, 2000


Cleber Xavier

2 comentários:

  1. Acredito que seria bastante chata a vida sem essa "constante mudança" não consigo imaginar o ser sem a evolução da essencia, acho que seria tedioso saber que tudo seria previsivel, esperado, vindo do outrem e as influencias então não existiriam? acho que realmente não existe esse "EU" puro... Enfim gostei bastante desse tema
    abordado.
    abração Cleber!

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  2. Olá Grazy, obrigado por comentar.
    Parece que nós somos uma mistura de tudo e de todos na vida.
    Abraços

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