domingo, 30 de abril de 2017

"Eu falo o que eu penso"


por Cleber Xavier

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Nem sempre o que falamos é resultado de um verdadeiro pensar.

Penso que você já ouvia esta frase: "Eu sou autêntico, eu falo o que eu penso; tenho personalidade forte."

As pessoas que pensam assim, não percebem que na verdade não falam o que pensam mas, na verdade, falam o que vem à cabeça. Pensamentos assim não nascem de uma reflexão, por isso tais ideias devem ser consideradas sem fundamento, superficiais.

Quem diz incessantemente essa sentença, de certa forma, é mais superficial que a própria frase. Os repetidores dela costumam ter uma postura corporal impositiva, Quem tem esse tipo de comportamento se apresenta como alguém sem conteúdo. Pessoas assim, isto é, que não convencem pela sua sabedoria cultural, se valem do seu grito, do seu berro, do bater seu pé no chão, esbugalhando seus olhos.

Por isso, quando alguém falar dessa forma, provavelmente, não tem nada a oferecer, a não ser seus gritos de desespero para ser ouvida.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Alunos tecnologicamente autodidatas





Adolescentes tecnologicamente armados, com seus celulares imersos em diversos programas e acessos ilimitados na internet; orelhas sempre em prontidão com seus fones impenetráveis por qualquer ruído externo; dedos flexivelmente rápidos com alta destreza, dá um espetáculo de agilidade ao teclarem, tanto seus celulares, em minúsculas teclas, quanto em seus notebooks.

É incrível como eles aprendem sozinhos o funcionamento destes aparelhos modernos de telefonia, que - podemos dizer - está mudando a todo instante, com novas versões, novos sistemas. Eles não leem os manuais e, na maioria das vezes não pedem ajuda, apenas ficam mexendo e descobrindo os recursos que muitas vezes está num outro idioma.

Não vejo como inimiga o envolvimento da tecnologia na vida dos estudantes, o problema é que, como meio de aprendizado, ela é pouco ou má explorada nas escolas. É uma discussão que ganha muito espaço atualmente no meio educacional, porém, vejo que às vezes muitos a interpretam mal, pois pensam que basta ter o recurso tecnológico e tudo ficará mais fácil e, nossos alunos aprenderão, pois, estarão muito bem motivados só por ter os equipamentos.

Mas o mais interessante é que fazendo um paralelo com este aprendizado autodidata destes jovens e o ensino escolar, temos uma observação um tanto quanto curiosa:

  1. Eles sabem acessar a internet, mas não "acessam" os livros e apostilas de Língua Portuguesa;
  2. Eles sabem ler as mensagens dos sites de relacionamento, mas não leem pequenos textos de filosofia;
  3. Eles sabem partilhar vídeos, músicas, imagens, mas não trabalham em grupo nos jogos da Educação Física;
  4. Eles sabem localizar pelo bluetooth usuários que ativam este mecanismo ao seu redor, mas não localizam os pontos principais  das causas da Segunda Guerra Mundial na aula de história;
  5. Eles sabem se localizar no GPS, mas não se localizam no globo terrestre na aula de Geografia;
  6. Eles sabem perfeitamente o que deve fazer nos jogos de celular que são de idioma inglês, mas não entendem o que é o verbo to be;
  7.  Eles sabem ...
(FIQUEM À VONTADE PARA CONTINUAR OS TÓPICOS)


Cleber Xavier

domingo, 19 de junho de 2011

Apenas um lápis, um papel e uma ideia



Hoje assisti uma entrevista de Eduardo Bueno em um programa da TV Escola. Essa entrevista foi bem interessante porque ela foi feita numa escola estadual, na qual, alunos e professores questionaram e tiraram dúvidas do trabalho e vida do entrevistado.

Eu não conhecia Eduardo Bueno. Pela entrevista, soube que ele é jornalista, escritor e tradutor brasileiro; também é conhecido como Peninha. Dentre algumas obras que escreveu estão: a tradução de "On the Road", de Jack Kerouac, a biografia dos Mamonas Assassinas e, cinco livros sobre a história do Brasil para leigos. Confesso que não conheço muito sobre seus escritos, mas sua postura e maneira como respondia as questões me cativou, principalmente sobre o que falou em relação a 'Leitura e Escrita" nas escolas.

Ele me fez refletir sobre a importância incondicional do estímulo à leitura e a escrita. Ele nos contou que era um aluno extremamente inquieto, por isso não fazia parte da lista de estudantes exemplares em critérios de disciplina e notas. Mas, a leitura e a escrita lhe possibilitou crescer como sujeito crítico e pensador, como também, desenvolver trabalhos que ganharam reconhecimento nacional.

Às vezes fico me questionando até que ponto o sistema educacional realmente prepara nossos estudantes? Preparar para o vestibular é tudo? Nossos alunos ficam anos se preparando para realizar uma prova que vai lhe dizer se ele estudou o suficiente ou não.

Na verdade, entendo que eles são ensinados a se moverem dentro da estrutura; conheçam religiosamente cada ponto de tal. Esta ideia me fez lembrar sobre as pulgas amestradas. Conta a lenda que essas pulgas são colocadas dentro de um pote fechado por uma tampa. A medida que pulam, batem na tampa obstruindo sua saída do pote. Isso é repetido muitas vezes, fazendo com que elas se condicionem a chegarem somente a altura da tampa. Quando se abre a tampa, elas não conseguem sair, pois, foram domesticadas a se limitarem.

Penso que a leitura e a escrita seja a possibilidade de abrirem a tampa para não se limitarem a estrutura e possam aumentar a altura de seus saltos por meio da criatividade. Não podemos enjaular a fera criativa que tem nossos alunos, mas motivá-las a buscarem a liberdade da criação, da transformação. O trabalho do professor atualmente está amplamente difícil, porque a maioria dos alunos se acomodaram a pularem limitadamente dentro do pote. E não foi somente pela estrutura educacional, mas pela estrutura social apresentada ideologicamente pelas instituições de controle.

Pensando nisso tudo cheguei a seguinte conclusão: "Nunca imaginei que simples coisas como um lápis, um papel e uma ideia fossem capazes de revolucionar a vida de alguém."

Cleber Xavier


quarta-feira, 15 de junho de 2011

Tédio

Pensar no que escrever, no que pensar ou em que refletir; criar, inventar, reinventar, transformar, redirecionar alguma ideia, uma realidade; apresentar uma visão inédita, ou um ponto de vista conhecido mas rediscutido. Isso tudo parece ser uma tarefa trabalhosa. Às vezes temos tanta sede em escrever mas não sabemos sobre o que escrever. Ouço o barulho da rua: sons de motores de carros e motos passando ou buzinando; pessoas conversando e, luzes dos faróis atravessando o vidro da janela. A vida vai passando e nenhuma ideia na cabeça; a vida vai passando e nenhuma reflexão que acho ser importante escrever; a vida vai passando, a vida vai passando, a vida vai passando...

Ligo a Tevê e vejo vários programas, nenhum me interessa. Clico no botão "Channel" várias vezes. Há tantos canais, milhares de canais, como não achar um que me interessa? Como é possível? Parece que o problema consiste mais no sujeito do que no mundo externo que o cerca. Será que não tem um canal bom, ou eu não estou com paciência para nenhum tipo de programa. Pensando bem tem dias que realmente não tem nada de bom na tevê mesmo; esses dias costumam ser nos domingos rs.

 Enquanto não tenho ideia vou descrevendo o tempo passar. Mas passar o quê? E passa por quê? O dia vai escurecendo mais, as luzes das casas vão enfeitando o cenário, as ruas começam  ficar menos movimentadas e a vida continua passando. É ... a música de Cazuza tem toda razão "o tempo não pára". Enquanto o tempo não pára o mundo se mantém na dinâmica da vida. Quanto mais tento pensar em alguma ideia, menos ideias tenho.

Parece que escrever não é um ato voluntário e certo, mas é um ato provocado por uma inspiração. Enquanto não temos uma boa inspiração é como se a comida não tivesse um bom tempero.

É ... fico por aqui, sem ideia e sem reflexão. Será?

Cleber Xavier

sábado, 21 de maio de 2011

Eu sou eu mesmo?

         

           É possível saber quem somos? Alguém pode responder dizendo que a resposta está em avaliarmos nossas atitudes. Mas, se tais atitudes não são necessariamente nossas.
          
            Vivemos num mar de influências, somos tocados e motivados por pessoas, instituições, ideologias, enfim, nos afogamos em ideias de outrem.

            Será que é possível descobrirmos nosso mais puro “EU”, sem qualquer influência. David Hume, filósofo do século XVIII, afirma que nós somos um conjunto de sensações que a todo momento está em constante mudança, deste modo, não é possível afirmar a existência de um “EU”. Para ele o “EU” é uma ficção. Se o “EU” existisse seríamos pessoas com uma essência estática, ou seja, nasceríamos prontos com nossas próprias qualidades para o mundo.
       
         Jean Paul Sartre (1905-1980) possui uma célebre frase “a existência precede a essência”, partindo desta ideia podemos dizer que o ser humano existe e posteriormente recebe influências da vida construindo assim sua “essência”. A grande questão que fica é se essa essência é do próprio indivíduo ou se ela é um conjunto de ideologias de outrem.
            
       No livro “O retrato de Doria Gray” de Oscar Wilde, mostra uma passagem interessantíssima que de certa forma aborda esta ideia:

“Porque exercer a nossa influência sobre alguém é darmos a própria alma. Esse alguém deixa de pensar com os pensamentos que Lhe são inerentes, ou de se inflamar com as suas próprias paixões. As suas virtudes não lhe são reais. Os seus pecados - se é que os pecados existem - são emprestados. Tal pessoa passa a ser o eco da música de outrem, o actor de um papel que não foi escrito para si. O objectivo da vida é o nosso desenvolvimento pessoal. Compreender perfeitamente a nossa natureza - é para isso que estamos cá neste mundo.” (WILDE, 2000: 26)

            Será que estamos vivendo paixões, pensamentos, virtudes e até pecados dos outros e não naturalmente nossos; será que no fundo, no fundo o objetivo de nossa vida se resume a encontrarmos nossa verdadeira natureza dentro de uma multiplicidade de ideias, pontos de vista, ideologias que não são necessariamente nossas?

            É possível chegarmos à superfície destas águas influenciáveis e enxergarmos nosso mais puro “EU”, nossa verdadeira natureza? Quem é capaz de respirar com seus próprios pulmões, enxergar com seus próprios olhos ou ouvir com seus próprios ouvidos?

            Pensem nisso, ou melhor, desafio vocês a pensarem com suas próprias ideias. Isto é possível?



Bibliografia:
WILDE, Oscar. O retrato de Dorian Gray. Tradução Maria de Lurdes Sousa Ruivo. Abril/ Controjornal, 2000


Cleber Xavier

sexta-feira, 25 de março de 2011

Hannah Arendt e a Crise da Educação

Hoje li um texto sobre a crise da educação trabalhado por Hannah Arendt no seu livro "Entre o passado e o futuro" muito interessante. Ela trabalha o conceito de natalidade relacionada a educação. Para ela a educação tem o papel de introduzir a criança para este mundo que a princípio é estranho a ela. Esta preparação nos coloca como responsáveis pela sua formação, na qual consiste no ensinamento de valores e princípios aprendidos. Se não houver uma certa preparação a esta criança, ela estará jogada a toda sorte.

Para introduzir a criança ao mundo, Arendt trabalha o conceito da esfera pública. Este conceito consiste no espaço onde se realiza de forma legítima a formação humana, na qual ele pode, com liberdade, se expressar, se criar. A esfera pública se contrapõe a esfera privada na qual se fundamenta na necessidade particular de sobrevivência da pessoa que é resumida na realização de interesses particulares se esquecendo do coletivo. Com a influência das mídias corporativas e suas ideologias de mercado há o desmantelamento da esfera pública massificando comportamentos e proporcionando uma pseudoidentidade das pessoas.

Pensando nessa visão de ARENDT sobre a natalidade como essência da educação, podemos perceber que seu desafio é de grandes proporções, principalmente porque ensinar e resgatar valores diante de ideologias que são propagadas pelas diversas mídias quase 24h se torna quase um trabalho sobre-humano. Como trabalhar valores e resgatar princípios sociais diante de um mercado que necessita deste pública para garantir suas ideias e produtos? Somos envenenados constantemente com ideologias de mercado e de entretenimentos vazios; apreciamos deliciosamente os produtos implicitamente impostos. Acordamos, andamos, trabalhamos, estudamos e dormimos com essas ideias. Fica difícil entender quem realmente sou eu?

Podemos dizer que o papel principal da Educação atualmente é tentar constantemente destruir estes padrões comerciais engolidos pelas sociedades que fomentam a esfera privada. O grande problema é que quem patrocina a própria educação, de certa maneira, são as grandes corporações comerciais, na qual tem como objetivo criar pessoas qualificadas para o mercado de trabalho. É preciso ter consciência de que o papel principal da Educação não consiste essencialmente numa formação técnica, mas sim na formação humana. Esta formação que consiste num sujeito que pensa a vida em todos os sentidos e não pensa exclusivamente as máquinas e seu funcionamento. Para isso é preciso que a esfera pública - trabalhado por Arendt - seja cultivada para que o espaço democrática da liberdade de expressão seja propagado, a fim de que legitimamente o humano seja contemplado no lugar da máquina. Desta forma a Educação poderá assumir o verdadeiro papel da natalidade, na qual, introduzirá a criança ao mundo procurando denunciar as influências ideológicas.

Cleber Xavier

domingo, 20 de março de 2011

Relacionamento

O que sustenta um relacionamento? Vemos relações darem errado e outras dando certo. Pessoas desesperadamente procurando seu par, sua tampa da panela, torcendo para não serem uma frigideira. Ou também, há pessoas que trocam de pares, quase na proporção que se troca uma roupa. O que levam algumas pessoas serem assim?

Hoje, em razão da grande ansiedade pela busca do parceiro(a) ideal, o mercado aproveita desta angústia frenética, para poder gerar capital. Vemos agências de relacionamentos que trabalham na busca de encontrar, a partir de seus dados, pretendentes possíveis para a futura relação. Não se pode dizer que relacionamentos construídos por uma relação virtual não duram, pois é possível encontrar vários que deram certo e que acabaram por constituir famílias.

É possível formular uma receita infalível para se manter um relacionamento? Venham... venham... lhe apresento 10 dicas para que seu relacionamento fique estável por toda a vida... ou, lhe apresento 5 maneiras de segurar o seu parceiro(a) por toda a sua vida.... ou, lhe apresento 3 dicas para que seu parceiro(a) seja dependente de você. Em vista desta propaganda, na qual apresenta uma ideia rápida e fácil para o seu produto, posso ter certeza de uma coisa, eu ganharia um bom dinheiro.

Todos sabemos que o segredo de um relacionamento estável consiste no AMOR, porém, este atributo não é previsível, não é calculável, não é passível de planejamento e nem mensurável. Pode-se dizer que o amor é um animal livre que não pode ser controlado, domesticado ou preso, pois perde sua essência e se torna a AMARGA ROTINA. No entanto, ele não cria raízes sozinho, precisa ser adubado e regado como uma flor. Esta flor é frágil, mas se bem cuidada cria fortes raízes.

Você pode aprender com algumas experiências de outros casais, porém, saiba que não se treina relacionamentos, não se pode tratar o amor como um mero objeto de testes, cada casal ou pessoa é único. Desta forma, você viverá situações singulares com seus relacionamentos. Se você foi sincero nos relacionamentos anteriores ao seu atual, você acaba aprendendo algo, porém, nunca poderá ser comparado a outros como se fosse um teste, por mais que tenha detalhes semelhantes, ainda ele será único. 

Eu entendo que o amor num relacionamento vai ser sempre um mistério inalcançável para nossa razão. Tentar entendê-lo é como querer entender a imensidão do universo. Não sou especialista em relacionamentos, mas entendo que a sinceridade e a comunicação é o seu melhor adubo.

Cleber Xavier